NOME Joana de Mendonça
Dados biográficos
PAI Diogo de Mendonça, Alcaide-Mor de Mourão
MÃE Brites Soares de Albergaria
DATA DE NASCIMENTO Século XV
PROFISSÃO / CARGO / FUNÇÃO / TÍTULO Duquesa de Bragança
LOCAL DA MORTE Vila Viçosa (sepultada por baixo do Coro do Convento das Chagas de Vila Viçosa)
DATA DA MORTE 1580
ESTADO Casada
CÔNJUGUE D.Jaime, Duque de Bragança (2ª mulher)
DATA DE CASAMENTO 1520
Nº DE FILHOS 8
FILHOS
Joana de Bragança (1521 — 1588), casou com Bernardino de Cardenas, 3º Marquês de Elche
Constantino de Bragança (1528 — 1575), Vice-rei da Índia
Jaime de Bragança, clérigo
Fulgêncio de Bragança, 11º Dom Prior da Colegiada de Guimarães
Teotónio de Bragança, Arcebispo de Évora
Eugénia de Bragança casou com D. Francisco de Melo, 2º Marquês de Ferreira
Maria de Bragança
Vicência de Bragança
Obra
OBRAS IMPRESSAS
Começam logo os louvores das damas os quais fez todos a Dona Joanna de Mendonça Não sei que possa dizer, por vós, que seja louvor, que se tão ousado fôr perderei o entender. Quando quero começar, é cousa que não tem cabo: antes me quero calar que cuidaram que vos gabo. Formosura tão sobeja vos deu Deus, cá entre nós, que não sei quem vos bem veja que se não perca por vós, que não deis sempre cuidado, que não mateis cada hora. Antes de vós desamado, que amado d’outra senhora! Pois sois sem comparação, de todas quantas nasceram: os que por vós se perderam bem se perdem com razão. E pois nunca vimos tal, nem creio que viu ninguém: que façaes a todos mal eu digo que fazeis bem. Tendes tanta gentileza, tanto ar na fala e rir, que quem vos, senhora, vir, nunca sentirá tristeza. Fostes no mundo nascida com graças tão escolhidas, que só por vos ter servida, daria duas mil vidas. Vossas grandes perfeições, manhas e desenvolturas, tiram todas as tristuras que acham nos corações. Vossas penas são prazer, vossos cuidados, vitória, vosso mal, é bem fazer, e vosso esquecer, memória. Quem vos não viu não tem vida, quem vos não serviu, senhora, pode contar por perdida toda sua vida té agora. E quem vir tal formosura, seja certo que hade ter. em quanto viver, tristura, juntos pesar e prazer. Do que vós tendes de mais podeis dar a todas, parte, e em vós ficar que farte, sem falecer o que daes. Que todas queiram tomar manhas, graças e parecer de vós, não pode minguar quanto nelas mais crescer. Dama de tal formosura, dama de tal merecer, o que vive sem vos vêr não teve boa ventura. Para que é vida sem vós? Nem se pode chamar vida, e se não fôreis nascida porque nasceramos nós? Quem viu nunca tal senhora, quem viu nunca tal mulher, que pode dar, se quiser, a morte e vida numa hora? Certo não dirá ninguém, que se viu tal creatura, nem que tal desenvoltura donzella teve, nem tem. Sois tão linda, tão airosa, que muitos mataes por fama; ante vós nenhuma dama não se chamara formosa: porque quantas damas são, juntas só numa figura, não terá comparação ante vossa formosura. Se no mundo se perdesse quanto se pôde cuidar, tudo vós podéreis dar sem que nada falecesse: Porque o que em vós sobeja é tanto, que abastaria a mil mundos, e teria cada uma o que deseja. Cabo Em saber e descrição, em virtudes e bondade, e em toda perfeição, tendes primor na verdade. Sois também mui piedosa, amiga de todo bem, sobretudo a mais formosa do que ouviu nem viu ninguém. * [Dedicado à autora] Não se espera outro rremedio De quem vyr a periguosa Se nam vida douidosa. D. Joana de Mendonça Por acudir ao rrifam Nam sey cousa que nam faça Ate confessor na praça Tudo o que nele v’dam E pareçeme rrezam, Que poys soys tam periguosa, nam sejays despiadosa. in.: RESENDE, Garcia de, Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, Lisboa, por Hermã de Campos, 1516, fls.
BIBLIOGRAFIA
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FREIRE, Anselmo Braancamp Freire, “A Gente do Cancioneiro” Revista Lusitana, vol. X, 1907, p. 290.
RESENDE, Garcia de, Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, Lisboa, por Hermã de Campos, 1516, fl.
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